sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"A Batalha da Quimera - Renato Viana e o modernismo cênico brasileiro"


Sebastião Milaré falou por duas horas sobre Renato Viana

Um resgate
Sebastião Milaré resolveu estudar a vida e a obra de Renato Viana porque achava “muito estranha” a história oficial do teatro brasileiro, contada como se as transformações tivessem ocorrido muito rapidamente.
Passou um ano inteiro pesquisando exclusivamente Viana. “Foi uma pesquisa muito difícil porque a memória dele foi literalmente varrida da história”, conta.  Por sorte teve acesso a um arquivo particular guardado por um parente e recheado de manuscritos e textos inéditos.
“Me dedico a resgatar essa memória porque acho uma injustiça. O resgate da importância dele agora se tornou um assunto de Estado a partir de uma publicação oficial da Funarte, ‘A última encarnação de Fausto’”, anuncia Milaré.
Contexto
Durante a palestra, Milaré contou que Renato Viana estreou profissionalmente como dramaturgo em 1918 no Rio de Janeiro, então o único pólo de teatro, onde todas as estréias aconteciam.
O cenário teatral da época foi descrito de modo divertido por Milaré: falava-se o português de Portugal, em peças que ficavam em cartaz de segunda a segunda e, se não tivessem bom público, eram rapidamente substituídas. Era um grande rodízio de comédias de costumes encenadas por atores que ganhavam personagens de acordo com o tipo físico, de modo que os personagens eram facilmente reconhecíveis e ainda seguiam um "manual" de caras e caretas para cada emoção que desejassem passar.
Renato Viana
Desde criança, Viana queria fazer teatro. Aos 14 anos, o suicídio do pai lhe abalou profundamente e deixou marcas em sua obra e em sua posição política. Tornou-se o esteio da família, atuando no Direito em defesa de lavradores e pequenos proprietários contra os grandes proprietários e oligarquias.
Sua primeira peça tinha todos os códigos do melodrama e empolgou público e crítica. Segundo Milaré, era evidente ali a tentativa de fazer um teatro psicológico com base na doutrina freudiana.
Com “Salomé” Viana consolidou seu prestígio como autor teatral, mas com “Os fantasmas” foi acusado de plagiar Henrik Ibsen. Com “A última encarnação de Fausto” dava sinais de querer participar com sua literatura dos movimentos da época, como a Semana de 22, a fundação do Partido Comunista, entre outros.
Era um homem de vanguarda: quebrou códigos importantes da época, com atores atuando de costas para a platéia e utilizando a luz de uma maneira diferente da usual, além de impôr regras disciplinares rígidas para os atores e implantar outras inovações que as pessoas nem sempre entendiam.

E mais ...

Sempre de bom humor, Milaré deu uma aula de teatro

Milaré falou também da briga entre Viana e o ator Leopoldo Fróes, da implantação e do trabalho das Cias. A Batalha da Quimera, Colméia e A Caverna Mágica, da parceria com Pascoal Carlos Magno, do Teatro Cassino, do Teatro Escola e da montagem da polêmica peça “Sexo”, das missões dramáticas, da fundação da Escola Dramática do Rio Grande do Sul, da criação do Teatro Anchieta, da criação da Escola Martins Pena, da relação de Viana com Getúlio Vargas ... ufa!
E depois de duas horas de palestra e bate-papo, finaliza: “Também tentaram varrer da história Villa Lobos, Portinari e todos que foram ‘apadrinhados’ por Getúlio, por política e acredito que também por um choque de gerações entre a dele e a que escreveu a história oficial do teatro. A história da modernização do teatro brasileiro está mal contada. Era só isso que eu queria falar para vocês”, brinca o bem humorado Milaré.

Valeu pela aula!


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