Wellington Duarte em Ocorrências / foto: Silvia Machado |
Exercício crítico por Karyna Bühler de Mello
“Mas esses
pensamentos não são de nenhum modo uma formalidade ou tampouco vêm de um
provável. Não são simples. Eles desenham por si o seu próprio sentido, se fazem
para agilizar um movimento no próprio pensamento. Um movimento por fora do
pensado, na direção de um pensamento outro, que age mesmo quando não parece
agindo”. Esse trecho escrito pelo paraense Nilson
Oliveira, editor da revista Polichinello, ao falar da obra do escritor e ensaísta francês Maurice Blanchot, é capaz de transmitir um pouco daquilo
que vimos em Ocorrências, dirigida pelo dramaturgo Luiz Päetow na Mostra de Teatro Contemporâneo.
A falta de
harmonia entre luz, ação e música que a princípio causa um estranhamento, com o
tempo permite ao espectador uma relação com a própria proposta artística da
peça. O bailarino Wellington
Duarte se coloca em palco para expressar, por meio do corpo, seu próprio modo
de sentir o mundo, como o mesmo declara. A desarmonia presente em palco permite
essa construção por parte do espectador.
O público
entra em um teatro em completa desordem, cada espectador deve pegar uma cadeira
e escolher um lugar. O que em principio parece simples, já se complica nesse
instante, em que as escolhas de cada um permitem olhares diferentes sobre
aquilo que se encena em palco, os jogos de luzes e sombras horas privilegiam
uns ora outros. Esse jogo com o público, ainda acontece em outros momentos, em
que a escuridão e o vazio acabam causando desconforto ao espectador, que esboça
reações diferentes no decorrer da peça.
A intensa
a quebra das expectativas geradas ao longo da apresentação. Por exemplo, quando
o som, em sua ausência, salvo pelos chiados, para, mas o dançarino continua
rodando em cena. Ou quando o dançarino para diante da plateia, como se fosse
dirigir-se a ela, mas, nesse momento, a luz é que se apaga ressaltando a
ausência desse corpo sempre em movimento, ocasionando no espectador um vazio e uma
falta de sentido que é explicado no todo da peça.
Ao mesmo
tempo, em meio a essas dissonâncias, observamos a busca de um encontro com a
sua própria ausência. Sobretudo quando o dançarino se coloca a “dialogar” com a
sua própria sombra, na busca de juntar-se a ela.
Todas essas
ocorrências em palco causam a descontinuidade que instaura o ritmo da peça e
são impregnadas pelas experiências artísticas que se desenvolve por meio da
construção de pensamento presente em cena.
Karyna Bühler de Mello é graduanda do curso de
Letras pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e integrante do grupo de
pesquisa Crítica Literária Materialista.
(Texto escrito como exercício da oficina Cultura da Crítica, no âmbito da Mostra de Teatro Contemporâneo. Não possui caráter valorativo).
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