quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Atração do dia 16/08 - "Peças" (Luiz Päetow/SP)

Foto: Ignes Arigoni


Espetáculo-solo do ator, diretor e dramaturgo Luiz Päetow, vencedor do Prêmio Shell por Music-Hall em 2010 e indicado por Abracadabra em 2011. Peças foi concebido originalmente pelo ator em 2005, marcando assim sua estreia na criação de monólogos performáticos: Peças, Cabeça de Medusa, Calando, Abracadabra, Ex-Máquinas e o mais recente Taeter.


para que contar uma história
já que já há jazigos de histórias


A obra é resultante de sua extensa pesquisa sobre a poética, absolutamente fora dos padrões, da artista norte-americana Gertrude Stein, 18741946, reconhecida mundialmente por detonar as mais importantes vanguardas, influenciando de Samuel Beckett a Hélio Oiticica, de Robert Wilson a Marina Abramovic. Dentre seus inúmeros textos, Päetow escolheu traduzir ao palco uma de suas palestras mais obscuras, escrita em 1934, publicada apenas postumamente e, até hoje, nunca havia sido encenada. A partir desta conferência, agora considerada um verdadeiro tratado sobre a performance, o espetáculo oferece uma meditação sobre o palco da vida em busca da essência teatral.

Um fluxo de raciocínio, nitidamente cubista, traduzido apenas através do corpo e da voz de Päetow. Os questionamentos provenientes destes choques cênicos impulsionam uma reavaliação de todo julgamento estético vigente. Enquanto muitos artistas, geralmente, saem pela tangente com uma ilusória releitura de velhos conceitos e regras, Gertrude Stein sempre cantou na contramão, discutindo os materiais de construção da gramática humana, soltando faíscas a partir de elementos primários, inusitados.
Foto:   Jorge Etecheber

Nas palavras do crítico Antonio Hildebrando: “Radical, sem concessões, o espetáculo PEÇAS corporifica no ator o desejo da autora, ainda buscado por muitos. Gertrude Stein invocava e tentava criar um teatro que fosse ‘atemporal’ ou ‘perpetuamente presente’. Esse teatro rejeitava preocupações tradicionais como crise-clímax, começo-meio-fim, prefiguração, desenvolvimento de personagens e intriga, em favor de um fluxo de existência. O espectador não tentará adentrar o mundo emocional de um drama desses; apenas o observará como observaria uma paisagem que estivesse simplesmente diante dos seus olhos.”

A invenção de uma experiência teatral deve ser mais urgente do que a mera representação de um evento ou a organização de uma história. Nossa mente é um teatro de possibilidades simultâneas, que investiga a si e aos outros espectadores para recriar a emoção. Logo, nossa mente é um campo a ser cultivado. E nesta peça-paisagem, o ator incorpora um inquisidor da nossa percepção. Será que a visão e o som têm relação com a emoção e o tempo? Qual será o papel da memória em uma ação? Um alerta para a responsabilidade da sensibilidade. O espetáculo joga com o ator saltando de ensaísta para intérprete, de fonte para veículo, de palestra para drama, da arte para ser humano.


a                arte            nasce                       quando morre a imitação



Päetow traduziu várias outras obras de Gertrude Stein: Gosto que isso seja uma peça de 1916, Um Exercício em Análise de 1917, O Rei ou Decorei (O Público é convidado a dançar) de 1917, Fotografia de 1920, Me Ouçam de 1936, Parto para a busca íon da eudentidade de 1938 e os poemas do livro Stanzas em Meditação de 1929-1933. Em 2006, ele produziu o Ciclo Gertrude Stein no SESC Pinheiros em SP, composto por uma série de encontros, onde encenou performances de peças e contou com a participação de alguns palestrantes.

Vale ressaltar que a encenação se mantém em perpétua construção. A cada novo espaço em que se apresenta, Päetow recria o desenho das cenas. Na primeira montagem em 2005, ele havia convidado o premiado encenador Marcio Aurelio (Agreste com a Cia Razões Inversas, Desassossego com Marilena Ansaldi) para assinar a direção. Então, ao longo dos anos e das várias temporadas, a obra vem sendo livremente transformada, de modo a permitir ao espectador um outro caminho de sensibilização, graças a uma dramaturgia primordial, fincada na emissão da voz e nas potências do corpo.

Segundo a crítica Beth Néspoli, no jornal O Estado de S.Paulo: “instigante solo de Luiz Päetow, como uma tela cubista.”


Foto: Érica Campos
Histórico do espetáculo
Realizou sua primeira apresentação no evento de inauguração do Teatro SESC-Santana em outubro de 2005. Realizou sua primeira temporada em 2006 no Teatro FAAP e, depois, no Teatro Oficina. Na sequência, foi convidado a participar do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto e do Festival Internacional de Teatro de Porto Alegre. Em 2008, realizou uma nova temporada no Teatro Coletivo em SP e, em seguida, uma longa temporada no Teatro Ágora. Em 2011, reestreou novamente no Teatro FAAP. Em 2012, foi convidado a participar da Mostra de Teatro Contemporâneo em Maringá.

Ficha técnica

título PEÇAS
criação produção encenação atuação Luiz Päetow
dramaturgia a partir de texto de Gertrude Stein
duração 70 minutos
indicação 16 anos

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