A atriz Mariah Teixeira / foto: Rafael Saes |
Exercício crítico por Victor Simião
“Começo
diferente, né?”, foi o que alguns dos espectadores disseram no início da peça Foi Carmem, do Grupo de Teatro Macunaíma
& Centro de Pesquisa Teatral do Sesc de São Paulo.
A peça foi
apresentada na abertura da 2ª Mostra de Teatro Contemporâneo.
O grupo tenta,
durante 50 minutos, relembrar a mulher que mostrou para muitos gringos o que
era o Brasil e, principalmente o quê a baiana tem (ou tinha).
O diretor da
peça, Antunes Filho, além de homenagear Carmen, também homenageia Kazuo Ohno,
pai de uma dança japonesa que se faz presente durante toda a apresentação
chamada butô.
O palco onde
a história se passa é simples. Enganam-se aqueles que esperam um espetáculo
rico em recursos cênicos, apesar de que, no decorrer da peça, alguns objetos aparecem
e enriquecem o jogo teatral.
E a largada é
dada. Uma menina entra, interpretada por Mariah Teixeira, contando em voz alta
seus paços, e, de quando em quando, coloca cadeiras no centro do palco e continua
a andar.
Senhoras
vestidas de preto aparecem e sentam nas cadeiras. A voz de Carmen Miranda
começa a soar na sonoplastia e a menina, de repente, dança como “a pequena”; e
fica triste, após perceber que aquilo não passa de fantasia.
Então surge
um malandro carioca (por Lee Taylor) e começa a falar um idioma pouco
compreensível. Pouco, porque algumas expressões como “banana”, “Carmen Miranda”
e “samba” podem ser entendido pelos espectadores, que acham graça e riem.
A compreensão
do publico para aí. As coisas, então, ficam mais complexas aos não-praticantes
do teatro contemporâneo. O ritmo da peça é forte, só os poucos iniciados no
meio conseguem entender tudo – ou quase tudo – que o grupo quer passar. Meros
mortais sem está prática ficam a mercê de seus pensamentos e compreensão de
mundo.
O carioca
começa a rodopiar e ter devaneios, aparentemente, com Carmen Miranda. Imagina
seu espírito andando, depois encontra uma passista, para, ao final, a tristeza
tomar conta de seu semblante.
No mesmo
instante, alguns espectadores se levantam e aplaudem de pé. Algo que, para grupos teatrais, é fantástico.
Mas a questão que fica é: será que todos realmente embarcaram? Será que o
aplauso em pé não se tornou clichê nos dias de hoje?
Foi possível
notar que no momento do aplauso não havia unanimidade e, sim, bom senso. “Não
vamos deixar cinco ou seis de pé. Vamos ser educados e aplaudir também”, deve
ter pensado parte dos espectadores.
Nada contra a
peça nem o grupo, afinal de contas os atores são bons. Mariah Teixeira
surpreende com seu jeito de criança. Mas
a peça, em si, não é tão clara como muitos dos espectadores fingiram que era. Ainda
falta uma cultura crítica e sincera nas plateias atuais, ou melhor, nas plateias
maringaenses.
PS: Para a
abertura da Mostra, até o prefeito licenciado Silvio Barros II compareceu, mas
só para dizer meia dúzia de palavras no início e ir embora após o apagar das
luzes e o espetáculo se iniciar.
Victor Simião é estudante de jornalismo e comentarista de literatura na Rádio Universitária Cesumar
Victor Simião é estudante de jornalismo e comentarista de literatura na Rádio Universitária Cesumar
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