quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Saudosismo, pouca compreensão e muito bom senso


A atriz Mariah Teixeira / foto: Rafael Saes

Exercício crítico por Victor Simião

“Começo diferente, né?”, foi o que alguns dos espectadores disseram no início da peça Foi Carmem, do Grupo de Teatro Macunaíma & Centro de Pesquisa Teatral do Sesc de São Paulo.

A peça foi apresentada na abertura da 2ª Mostra de Teatro Contemporâneo.

O grupo tenta, durante 50 minutos, relembrar a mulher que mostrou para muitos gringos o que era o Brasil e, principalmente o quê a baiana tem (ou tinha).

O diretor da peça, Antunes Filho, além de homenagear Carmen, também homenageia Kazuo Ohno, pai de uma dança japonesa que se faz presente durante toda a apresentação chamada butô.

O palco onde a história se passa é simples. Enganam-se aqueles que esperam um espetáculo rico em recursos cênicos, apesar de que, no decorrer da peça, alguns objetos aparecem e enriquecem o jogo teatral.

E a largada é dada. Uma menina entra, interpretada por Mariah Teixeira, contando em voz alta seus paços, e, de quando em quando, coloca cadeiras no centro do palco e continua a andar.

Senhoras vestidas de preto aparecem e sentam nas cadeiras. A voz de Carmen Miranda começa a soar na sonoplastia e a menina, de repente, dança como “a pequena”; e fica triste, após perceber que aquilo não passa de fantasia.

Então surge um malandro carioca (por Lee Taylor) e começa a falar um idioma pouco compreensível. Pouco, porque algumas expressões como “banana”, “Carmen Miranda” e “samba” podem ser entendido pelos espectadores, que acham graça e riem.

A compreensão do publico para aí. As coisas, então, ficam mais complexas aos não-praticantes do teatro contemporâneo. O ritmo da peça é forte, só os poucos iniciados no meio conseguem entender tudo – ou quase tudo – que o grupo quer passar. Meros mortais sem está prática ficam a mercê de seus pensamentos e compreensão de mundo.

O carioca começa a rodopiar e ter devaneios, aparentemente, com Carmen Miranda. Imagina seu espírito andando, depois encontra uma passista, para, ao final, a tristeza tomar conta de seu semblante.

No mesmo instante, alguns espectadores se levantam e aplaudem de pé.  Algo que, para grupos teatrais, é fantástico. Mas a questão que fica é: será que todos realmente embarcaram? Será que o aplauso em pé não se tornou clichê nos dias de hoje?

Foi possível notar que no momento do aplauso não havia unanimidade e, sim, bom senso. “Não vamos deixar cinco ou seis de pé. Vamos ser educados e aplaudir também”, deve ter pensado parte dos espectadores.

Nada contra a peça nem o grupo, afinal de contas os atores são bons. Mariah Teixeira surpreende com seu jeito de criança.  Mas a peça, em si, não é tão clara como muitos dos espectadores fingiram que era. Ainda falta uma cultura crítica e sincera nas plateias atuais, ou melhor, nas plateias maringaenses.

PS: Para a abertura da Mostra, até o prefeito licenciado Silvio Barros II compareceu, mas só para dizer meia dúzia de palavras no início e ir embora após o apagar das luzes e o espetáculo se iniciar.

Victor Simião é estudante de jornalismo e comentarista de literatura na Rádio Universitária Cesumar
 
(Texto escrito como exercício da oficina Cultura da Crítica, no âmbito da Mostra de Teatro Contemporâneo. Não possui caráter valorativo).

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