Solo
do bailarino Wellington Duarte, espetáculo de dança contemporânea, é a primeira
direção em dança de Luiz Päetow, que encontra afinidades com o pensamento do
filósofo, crítico e poeta francês Maurice Blanchot.
Contemplado
pela Lei de Fomento à Dança da Cidade de São Paulo, OCORRÊNCIAS dá continuidade ao estudo-pesquisa de
um pensamento de corpo que vem sendo construído pelo bailarino Wellington
Duarte desde 1995, através
de experiências e parcerias com diversos
artistas, cujo foco de ação é a busca por uma corporalidade singular na
construção cênica em
dança. Agora , agrega o ator, diretor e dramaturgo Luiz
Päetow, cuja parceria se dá pela total afinidade com a radicalidade de seu
pensamento estético”, conta Wellington.
Criador das primeiras
versões de Prêt-à-Porter, projeto reconhecido na cena teatral
paulista do diretor Antunes Filho, o ator, diretor e dramaturgo Luiz Päetow estreia como diretor de um espetáculo
de dança. OCORRÊNCIAS,
solo do bailarino Wellington
Duarte.
Pluralidade de caminhos
Em
sua trajetória particular, Wellington Duarte promoveu um fazer-dizer do corpo,
formulou questões no e pelo corpo, e construiu caminhos e qualidades corporais
que vão além de temas pontuais. Este contínuo fazer tem elaborado
algo mais físico organizado pensamentos e questões no corpo. Seu modo de
processar suas criações encontra afinidades com pensamento do filósofo, crítico
e poeta francês Maurice Blanchot, para quem um método é etimologicamente uma
via, um caminho ou uma pluralidade de caminhos.
“Segundo Blanchot, deve-se à
experiência da criação a revelação de uma abertura que nunca se concretiza
completamente: o caminho do artista se faz através de um movimento infinito em
direção à Obra. O que não quer dizer que seja mera flutuação vã, mas sim que se
comprometa com a permanente necessidade de investigação, de reinterpretação, de
ação por vir. Assim, cada
criação é um passo permanente em direção ao que não se deixa constituir
enquanto tal, apenas desdobramentos”, explica o bailarino.Anarquia de movimentos
Para
o diretor Luiz Päetow, OCORRÊNCIAS investiga a potência do desastre da
cena, com os movimentos do corpo
ressoando uma reflexão anárquica, uma sucessão de interferências invadindo o
tempo e sendo invadidas pelo espaço. “O
espetáculo não possui molduras
narrativas, mas sim uma paisagem
de movimentos insuspeitos e infinitos em direção à obra: nosso corpo, um
boletim de ocorrências ambulante”, esclarece ele.
O
diretor conta que no espetáculo o público poderá ver o embate de movimentos, livres de uma personificação. “O corpo, sempre em deslocamento e sem repouso, é a
matéria prima para os movimentos que não se completam e não possuem uma trajetória linear”, comenta Päetow.
Uma vez que a obra não tem como ponto de partida um tema definido
anteriormente, as demais materialidades que compõem OCORRÊNCIAS – espaço-luz-som –, nascem da íntima relação
com os conceitos norteadores da pesquisa corporal, ou seja, as constantes provocações e contaminações.
Luz e som
Vencedor
do Prêmio Shell 2009 de iluminação pelo espetáculo Music-Hall, Päetow volta a
criar novos mecanismos de iluminação para OCORRÊNCIAS. Serão cinco faixas deleds que se movimentarão pelo palco
conforme os passos de Wellington, tudo feito artesanalmente e operado pelo
próprio Päetow.
Para a trilha sonora,
Päetow criou uma música de ruídos
e interferências sonoras que
chegarão ao público por meio de cinco pontos distribuídos no palco e plateia. Figuram barulhos de objetos e
aparelhos domésticos, e até trechos de um canto de Alessandro Moreschi, considerado o
último “castrato” da história. “A ideia é oferecer ao público o acesso a uma zona de texturas, em
perpétuo acidente. Tanto a luz quanto o som perfuram os movimentos corporais do Wellington.
Os espectadores, então, como testemunhas, realizarão a última ocorrência.”
Sobre Wellington Duarte
Atua como dançarino, ator e performer.
Principais trabalhos: Rútilo
Nada, concepção e interpretação Donizeti Mazonas e Wellinton Duarte, direção de
Daniel Fagundes (2009);Torso+Oco, concepção Wellington Duarte, direção
de Donizeti Mazonas
(2009); Por que Tenho Essa
Forma?, direção de Zélia
Monteiro, com o Núcleo de Improvisação (2009); Récita...de Um Movimento
Só, concepção e direção de Wellington Duarte e Donizeti Mazonas
(2007/ 2008); Ascese – Pequeno
Tratado sobre o Abismo ou O Jardim das Rochas, a partir da obra de Nikos
Kazantzakis com pesquisa coreográfica de Zélia Monteiro e Wellington Duarte
(2007/ 2006); performance Quadris
de homem = carne/mulher = carne, da artista plástica Laura Lima, na
exposição do Itaú Cultural O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira (2005);
performance dirigida pelo diretor e coreógrafo japonês Hiroyshi Koyke,
apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo (2004) e Confraria Desnaturada,
continuação da pesquisa inspirada na obra de Arthur Omar (2003/ 2004). Em 2001/
2002 participou como bailarino, cantor e ator de Os Lusíadas, de Luís Vaz de
Camões (primeira versão por Iakov Hilel e segunda versão por Márcio Aurélio),
com apresentações internacionais em Lisboa e no Festival Internacional da
Cidade de Porto, em
Portugal. Foi premiado com a Bolsa Vitae de Dança 1999, com a
pesquisa do espetáculo Confraria
Desnaturada, e participou da Cia Nova Dança com o espetáculo Da Sacada Tudo Passa a Ser Evento, com direção de Adriana Grechi,
premiado com a Bolsa Vitae (1997). Também dirigiu e atuou em Tragédia Brasileira, espetáculo
de dança-teatro baseado na obra homônima de Manuel Bandeira, sendo contemplado
com a Bolsa Rede Stagium.
Sobre Luiz Päetow
Ator, diretor e dramaturgo. Criador das
primeiras versões de Prêt-à-Porter, projeto vencedor do Prêmio Shell, no Centro de Pesquisa Teatral-SESC, onde
implantou o Círculo de Dramaturgia e trabalhou como ator e assistente de
direção de Antunes Filho no espetáculo Fragmentos
Troianos, premiado com o Shell e o APCA de melhor direção, excursionando
pela Turquia e Japão em 1999. Fez também assistência de direção para
Daniela Thomas no espetáculo Da
Gaivota, com Fernanda
Montenegro, Fernanda Torres e Antonio Abujamra. Em 2000, estreou sua primeira
direção geral com a ópera The
Fairy Queen, de Henry Purcell, apresentada no Teatro SESC-Anchieta.
Protagonizou os espetáculos Leonce
& Lena, de Georg Büchner,
dirigido por Gabriel Villela; 4.48
Psicose, de Sarah Kane, por Nelson de Sá; Palavras & Música e Cascando, de Samuel Beckett,
por Rubens Rusche. Sempre com o foco na liberdade e radicalidade de expressões,
vem desenvolvendo uma obra extremamente singular. Em 2006, criou o monólogo Peças, sua tradução para texto
inédito de Gertrude Stein, com encenação de Marcio Aurelio, no Teatro Faap e
abrindo temporadas em vários teatros e festivais. Em 2009, assinou direção,
tradução, cenário e a iluminação para Music-Hall de Jean-Luc Lagarce, pela qual
recebeu o Prêmio Shell de Teatro. Em 2010, realizou seu segundo solo, Abracadabra, com encenação,
produção e dramaturgia próprias, indicado ao Prêmio Shell, apresentado no
Teatro Sesc-Anchieta e em diversos teatros e festivais internacionais. Em 2011,
lançou o terceiro solo, Ex-Máquinas,
com sua autoria e direção geral, no Teatro Faap. Atualmente, está ensaiando Der Hausierer, um espetáculo
alemão em Berlim com estreia marcada para o final de 2012, e preparando em São Paulo a estreia de TAETER, um projeto autoral com
residência artística no Teatro da Memória - Instituto Cultural Capobianco,
constituído por diversos solos, previsto para julho de 2012.
Ficha Técnica:
Concepção e Interpretação – Wellington Duarte. Direção Geral – Luiz Päetow. Dramaturgia Corporal – Vera Sala. Cenografia, Iluminação e Música – Luiz Päetow. Fotografia – Silvia Machado. Produção Executiva – Vanessa Lopes/ Independente produção
e arte. Assistente de Produção – Fernanda Perniciotti. Realização – Núcleo Entretanto da Cooperativa
Paulista de Teatro. Duração – 50 minutos. Espetáculo recomendado
para maiores de 14 anos.
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